Em 1991, quando escrevi o prefácio da primeira edição deste livro, eu o fiz ciente de que estava a produzir um texto desnecessário. Lavareda não precisava ser apresentado. E hoje? Hoje, como é fácil imaginar, eu vejo minha tarefa como um perfeito contrassenso. Nos vinte anos transcorridos desde o aparecimento deste magnífico A Democracia nas Urnas, Lavareda firmou-se como um cientista social de primeira linha e uma referência obrigatória no debate político nacional, sem esquecer, é claro, o título de "mago das pesquisas eleitorais" que a imprensa apropriadamente lhe atribuiu. Fiz em 1991 esta observação: "estamos diante de um livro memorável: um marco, sem favor algum, na evolução dos estudos políticos brasileiros". De fato, Lavareda trouxe esclarecimentos decisivos para uma questão fundamental no debate sobre o regime de 1946-64: a da suposta debilidade do sistema partidário como um fator causal do colapso da democracia. Reavaliando os dados político-eleitorais daquele período, ele mostrou que o referido sistema tendia a se estabilizar - e não a se desintegrar, como outros autores haviam argumentado. Refutou, assim, a tese do artificialismo dos partidos e a responsabilidade que frequentemente se lhes atribuía no advento do ciclo de governos militares.