Nunca tive a menor dúvida de que o traduzir é uma atividade infindável, desde o início dos tempos humanos, e de que toda, toda, toda tradução sempre tem um elemento de acaso, uma margem de arbitrariedade que nenhum praticante do ofício deixaria de reconhecer. Traduzimos, e isso sempre pensando, refletindo, escolhendo, desistindo, decidindo outra coisa e que, afinal, poderia ainda ser uma terceira, uma quarta, uma centésima coisa diferente. Isso, cada um de nós, individualmente, faz, e em cada texto. Imagine-se então a quantidade de obras ao longo dos milênios, a quantidade de gente traduzindo ao longo dos milênios e nunca se chegando, nunca podendo nem pretendendo (e, na consciência desse drama, muitas vezes nem querendo) se chegar a nada definitivo. Vertiginoso. É preciso coragem, habilidade, conhecimento para refletir sobre essas fossas profundas da precariedade e da transitoriedade do traduzir. E quando falo conhecimento, refiro-me a conhecimento de causa [...]