Nesta reunião de poemas, que incluem textos do início da produção literária do autor, Carlos Cardoso mostra sua força no contraste entre a poética da depuração e do verso discursivo, alinhavando referências religiosas e sacrílegas para criar uma poesia do despojamento, transparente, descalça. Da apresentação de Italo Moriconi: Sol descalço nos permite descortinar as fontes mais originárias da sensibilidade poética de Carlos. Se Melancolia evidenciava maturidade técnica e temática, composta por um corpo orgânico de poemas em torno do tema-título e das metáforas que o representavam (a principal sendo a figura da pedra), o presente volume é mais como um palimpsesto, em que podem ser discernidas camadas diferentes da evolução do poeta. Um poeta que não luta com as palavras, como Drummond. Apega-se a elas como boias salvadoras em pleno perigo de naufrágio. Temos aqui uma poesia rascante, sem concessões ao sentimentalismo banal, mas que não deixa de mirar o amor [...]