Aqui está um livro inusitado - e não só em relação ao título - promovendo a interpretação deste trágico acontecimento que cintilou nas telas de TV do mundo inteiro: o 11 de setembro de 2001. O autor, Maurício Álvarez, professor na UFF e romancista, redigiu uma ensaio explorando a característica essencial de um trabalho desta natureza: experimentar. Ou como escreveu Barthes: \"gênero incerto onde a escritura rivaliza com a análise\". Há uma certa dose de experimentalismo e sedução pelo testar, pelo tão inconcluso quanto a própria vida. Recuperando o episódio do 11 de setembro da dinâmica ontológica do cotidiano, o autor nos conduz ao passado que parteja tão fortemente o presente. Escreve sobre as imagens que todos vimos, as colisões das aeronaves, os desabamentos das torres. Analisa a dobradiça da porta do tempo que enfeixava uma teia de narrativas do passado e as abria em direção a um trepidante futuro: a guerra do Afeganistão e a do Iraque. A partir de um texto clássico narrando o pranto pela morte de um mito, mergulhamos no universo do imaginário do Ocidente, do Oriente Médio e dos Estados Unidos da América. Com erudição, narra por que o estupor do público diante das imagens surgidas do nada, sem um roteiro prévio. Analisando a perplexidade produzida pelas imagens trágicas às quais assistimos, justifica nossa surpresa. Nós, passageiros de um século cuja sensibilidade foi modelada pela imagem do cinema. Além de ser informativo, traz em sua narrativa um vasto acervo de referências documentais. O livro - ao contrário dos textos de erudição - proporciona prazer de ler graças ao seu estilo ágil e vibrante. Aqui está um ensaio que nos leva a refletir sobre as imagens do cinema, do mito, e das perplexidades da atualidade mundializada. Um livro para ler e reler inclusive durante uma viagem aérea.