Nem sempre o Brasil foi brasileiro. Duzentos anos atrás, o país não passava de um amontoado de províncias, com pouca unidade entre si. Nem o português era falado de ponta a ponta igualmente. Em São Paulo, por exemplo, por muito tempo o tupi foi o idioma falado dentro de casa. Não havia sequer um consenso sobre a denominação correta de quem nascia aqui. Brasileiro, brasiliense, brasiliano? A escolha ficava a cargo do freguês. Mas em algum momento começamos a nos olhar de um jeito diferente e a nos reconhecer como iguais. Descobrimos coisas nossas, como a praia, a conversa jogada fora, o botequim e, é claro, a música. Esta história tem início há 150 anos , quando, em meio a uma revolução sociocultural, um punhado de compositores arrojados lançou as sementes do que viria a ser a música popular brasileira. Artistas como Joaquim Callado, Chiquinha Gonzaga e vários outros começaram intuitivamente a salpicar um ritmo diferente nos gêneros europeus populares que chegavam aqui. Estavam criadas as bases do choro, o primeiro gênero popular nacional. A geração de músicos que conseguiria conceber algo tão novo, diferente de tudo o que se ouvia, encontrou o ambiente ideal para suas criações nas últimas décadas do século 19. O país passava por grandes mudanças: surgia a classe média baixa - os emergentes dos 1800 -, os costumes se modificavam, e até a geografia do Rio de Janeiro ganhava novos contornos. As relações sociais também assumem outra feição. Começa a diminuir, aos poucos, o fosso entre ricos e pobres, negros e brancos. Nesse ambiente, nasce a música que será a cara do Brasil.