Quando o industrial Franco Zampari convidou o encenador belga Maurice Vaneau para dirigir o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1955, ele não titubeou. Vaneau, então prestes a completar 30 anos, fazia sua primeira turnê pelo Brasil, onde acompanhava o Teatro Nacional da Bélgica (TNB) na montagem de várias peças, dentre as quais Barrabás, de Ghelderode, uma de suas direções que marcaram época. O convite selava uma mudança no destino do teatro brasileiro e na vida daquele que ajudou a profissionalizar e a modernizar a nossa dramaturgia. A história é narrada em primeira pessoa em depoimento para Leila V.B Gouvêa no livro Artista Múltiplo, da Coleção Aplauso - Imprensa Oficial., com lançameno marcado para quinta-feira, 6 de julho, a partir das 20h, na abertura da exposição de mesmo nome, comemorativa dos 80 anos do diretor e "homem de teatro total", que será realizada no Sesc Pinheiros (3º. Andar): Rua Paes Leme, 195 - 3º. And. Tel.: (11) 3095-9400. A mostra Maurice Vaneau, artista múltiplo - 80 anos ficará aberta até 13 de agosto, de terça a sexta-feira, das 13h às 21h30, e aos sábados, domingos e feriados das 10 às 18h30. Na introdução, a autora destaca que encontrou, em maio de 2005, um encenador golpeado na capacidade de rever seu passado. "Agora, quase tudo se embaralhava, se dissipava. Noutras vezes, contudo, de repente podia reviver as lembranças a ponto de como que tentar agarrar o passado com as mãos - e os olhinhos azuis voltavam a brilhar, uma nota de ternura ou um palavrão de revolta aflorava com ímpeto de sua boca ou semblante, mediante um gesto ou expressão". Maurice Vaneau completou 80 anos em janeiro deste ano. Da infância e adolescência na Europa às lembranças da Segunda Guerra, os primeiros passos em cima de um palco, a partir de 1946 na companhia do Rideau de Bruxelas, ao desembarque no Brasil, onde se encantou à primeira vista com a beleza da paisagem, o dinamismo da era JK, a alegria e a hospitalidade do nosso povo, tudo está resgatado na publicação. Mas foi a aposta no teatro brasileiro que o levou a aceitar o convite de Zampari. Era um tempo de efervescência cultural no Brasil dos anos 50 e o TBC, em sua época áurea, era sinônimo de renovação e ousadia de nosso teatro. O TBC era também era o celeiro ideal por reunir o melhor elenco do país. Nomes como Cacilda Becker, Tônia Carrero, Fernanda Montenegro, Cleyde Yáconis, Nydia Lícia, Nathalia Timberg, Tereza Rachel, Paulo Autran, Sérgio Cardoso, Jardel Filho e Walmor Chagas. Aqui Vaneau fez parte da legião de estrangeiros que já despontava nos palcos, como os italianos Adolfo Celi, Aldo Calvo, Luciano Salce, Gianni Rato, Ruggero Jacobi, Flaminio Bollini, além do polonês Ziembinski. Elementos que, conjugados, davam as condições necessárias para o improviso e a espontaneidade em relação ao teatro belga. Nos nossos palcos, Vaneau encontrou as inspirações artísticas que o ajudaram a revezar montagens clássicas estrangeiras, como Gata em Teto de Zinco Quente, Quem tem Medo de Virginia Woolf? e Um Bonde Chamado Desejo, com obras de nossos dramaturgos modernos, como Jorge Andrade, João Bethencourt e Ariano Suassuna. Este perfil, como o próprio título propõe, não se atém apenas em descrever Maurice Vaneau como homem de teatro, mas também o artista que se sobressaiu em outros campos, com domínio em todos os aspectos da realização artística. Dois capítulos do livro radiografam suas outras facetas, como as participações em outras companhias que se formaram no Brasil entre os anos de 1960 e 1970, as montagens de espetáculos de dança e ópera a partir de 1969, além de sua incursão pela dramaturgia televisiva, como intérprete da minissérie A Máfia do Brasil (1984) e das novelas Carmen (1987/88) e Brasileiros e Brasileiras (1990/92). O seu abrasileiramento o levou a outros horizontes, como a administração do Theatro Municipal de São Paulo, em 1975-76, do Teatro Castro Alves, em Salvador, em 1977, e do Centro Cultural Teatro Guaíra, em Curitiba, entre 1992 e 1994. Ao todo, Maurice Vaneau dirigiu ou participou de mais de 80 espetáculos entre peças de teatro, óperas, coreografias, documentários, tele-reportagens e teledramaturgia brasileira, além dos quase cem trabalhos que encenou ou em que trabalhou na Europa. Todos com casas cheias. São dele, aliás, duas das montagens de maior êxito do TBC - A Casa de Chá do Luar de Agosto, de John Patrick, sua estréia na companhia em 1956, e Os Ossos do Barão, de Jorge Andrade, sua primeira adaptação de um autor brasileiro, em 1963. Sobre a Autora O livro Maurice Vaneau, artista múltiplo foi escrito por Leila V.B. Gouvêa, escritora, jornalista, pesquisadora em literatura e doutora em Letras pela USP. Autora, entre outros trabalhos, de Cecília em Portugal, um "capítulo" da biografia de Cecília Meireles (Iluminuras, 2001), Leila foi uma observadora privilegiada da trajetória de Maurice Vaneau nas últimas décadas, a quem também está ligada por laços de família. Por motivos como estes, foi escolhida pela coreógrafa Célia Gouvêa, mulher e colaboradora do diretor nos últimos 35 anos, para escrever o volume de memórias de Vaneau para a Coleção Aplauso. Quando o industrial Franco Zampari convidou o encenador belga Maurice Vaneau para dirigir o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), em 1955, ele não titubeou. Vaneau, então prestes a completar 30 anos, fazia sua primeira turnê pelo Brasil, onde acompanhava o Teatro Nacional da Bélgica (TNB) na montagem de várias peças, dentre as quais Barrabás, de Ghelderode, uma de suas direções que marcaram época. O convite selava uma mudança no destino do teatro brasileiro e na vida daquele que ajudou a profissionalizar e a modernizar a nossa dramaturgia. A história é narrada em primeira pessoa em depoimento para Leila V.B Gouvêa no livro Artista Múltiplo, da Coleção Aplauso - Imprensa Oficial. Leila foi escolhida pela coreógrafa Célia Gouvêa, mulher e colaboradora do diretor nos últimos 35 anos.