exercício de [oito] orelha[s]: como soltar a pássara engaiolada na goela? abrir os olhos, chorar. alongar o pescoço formando uma meia-lua pra dissolver a areia de dentro. elevar os braços num espreguiçamento, olhar o abismo sem certeza absoluta sobre o funcionamento das penas e saltar. abrir a boca, esticar a língua infinitamente até que se possa sentir o grito entocado na vibração não dada da prega minúscula vocal sendo empurrado pra fora. grunhir, gemer, tecer um som sem pé nem cabeça até que se possa vocalizar o indizível. cantar/pássaras-palavras que voam e voltam pra garganta. prestar atenção para que elas possam sair espontâneas e cuidadosas, acreditando na possibilidade de reparação consigo e com o outro. constantemente aprendendo a viver, vulgo peda[lar]. pedir lar pra mim e pro outro. viver é ação, exercício de ser nesse corpo que habitamos e se movimenta como pedalar, esticando uma perna e flexionando a outra. esses movimentos coexistem, são mútuos para que seja (...)