Este livro trata da ação cultural e da vida cultural, especialmente em suas relações com o poder. O livro não se refere a qualquer poder, mais ao poder arbitrário, àquele poder sem limites. Aqui a ação cultural se expressa nas formas de resitência cultural, de elaboração cultural e de produção cultural. Em certas condições e em certos momentos, as artes e literaturas, a história e a educação, algumas atividades de desobediência, por exemplo, ganham também a dimensão de resistir culturalmente. É o que mostram os capítulos contidos no livro, relativos à literatura, à tolerância e a Tolstoi. Por seu lado, o poder arbitrário constrói estruturas mentais bastante consistentes, que são concepções de mundo assentadas na desigualdade, na imutabilidade humana e na vontade idealizada. Tais elaborações culturais, socialmente determinadas, dogmáticas e previsíveis, acham-se representadas no livro, por meio de substâncioso ensaio sobre o conservadorismo. O arbítrio não gera apenas concepções de mundo. Ele igualmente edifica castelos bem concretos, materialmente robustos, mesmo assim despedaçados pelo temo e pelo caráter corrosivo dos conflitos. No livro, os produtos do arbítrio surgem no exame dos Conselhos de Estado Napoleônico e Imperial Brasileiro, e, ainda, no ensaio sobre Weber e o Direito, partindo de posições distintas. Mais do que o conhecimento e análise, este livro traz ao leitor um projeto de educação cultural, não a gosto de educação sentimental de Flaubert, embora se lembre dela.