Com efeito, o que se joga e se busca sob a égide do ódio pelo pai? Não o acesso ao gozo da mãe, mas a castração do pai como transmissão exigível de minha própria castração. Com efeito, se o pai não a transmite, só posso então endereçar-lhe a reprovação de ter-me feito mal; pois o ódio só se dirige aquele que está em posição exaltada de Criador e mestre e, se me considero, pois, mal feito, só pode ser culpa dele. Assim, está em jogo encontrar, sob a égide da articulação do ódio, o real da paternidade, ou seja, a castração, segundo a qual o Pai não se basta a si próprio, não se cria a lei como um Deus criador, mas está submetido à lei do desejo. E ele só representa e só sustenta esta lei na medida em que dela padece encontrando a causa de seu desejo fora dele nesta mulher, que chamo minha Mãe. Termino, portanto, dizendo que o único fiador da função paterna é a posição de um homem que fez de uma mulher a causa de seu desejo. O que acontece com ela, em contragolpe, como uma mulher não é mais importante (o Nome-do-Pai nela estando suposto quoad matrem!). O importante quanto ao pai está alhures: se ele está voltando para essa mulher, então ele pode cuidar de seus filhos, sem procurar estabelecer com eles uma relação de gozo. Assim, o que lhe diz respeito, ele quanto ao seu gozo com a mãe de seus filhos, permanece atrás do véu do semidizer, coberto pelo manto de Noé: nada a saber, de modo que sobre essa janela vazia de saber o filho ou a filha possa ali colocar a tela da fantasia dele ou dela. Sem esse justo semidizer, o pai cai na perversão: "Nada pior do que um pai que profere a lei sobre tudo", controla tudo, dá voz sobre tudo. Ele encontra a cumplicidade da criança que, por amor pelo pai, se volta para ele: sadismo do lado do pai, masoquismo do lado da criança (único caso aliais, em que se pode falar de sadomasoquismo!). Voz, voz grossa, provocada de um lado, jaculada, do outro!