Não respeite a regra da prioridade e corte a estrada a um automobilista: na melhor das hipóteses, ele vai bater com o indicador na fronte ou na testa, sancionando à maneira dele a sua condução irreflectida. Esse gesto simples é universal e provavelmente milenário. O temporal e o frontal protegem o órgão insubstituível onde residem a memória, a vontade, o juízo, a razão, o espírito de decisão. Sem eles, não passaríamos de animais inferiores. Para um ser humano, perdê-los por motivo de doença é caminhar para a demência. Trata-se de um assunto de neurónios. Este neurónio que recebe, compara, regista, responde, ordena, tece com os seus congéneres redes das quais domina os nós e os centros, antes de decidir um comportamento e, mais tarde, criar imagens mentais e o pensamento. No entanto, um neurónio não deve ser muito diferente, a não ser pela sua multiplicidade, pela riqueza das suas ramificações e dos seus contactos, da primeira célula nervosa que apareceu neste mundo. Esta nasceu talvez do revestimento de uma esponja ou, sem dúvida, do franzimento do ovo de uma medusa. Antes dela, as outras células primitivas comunicavam entre si através de poros, assegurando a troca preguiçosa de algumas moléculas." Como é que pudemos alcançar esse ponto? Primeiramente, devido às células que mobilizam a autonomia e a fisiologia, depois devido às moléculas e, seguidamente, ao convocar a neuroquímica moderna, a aventura do neurónio conduz-nos até à psicologia e à sociologia. Existirá algo mais fascinante do que pôr os nossos neurónios a funcionar... sobre a sua própria história? Uma verdadeira aventura!...JACQUES-MICHEL ROBERT é professor na Universidade Claude-Bernard, em Lyon, onde ensina Genética, e dirige o Serviço de Genética do Hôtel-Dieu. É autor de várias obras