O melhor jeito de passar a perna na morte é mudando de aparência, diz vovó a sua netinha no começo de Aldabra a tartaruga que amava Shakespeare, de Silvana Gandolfi. E tudo pode passar pela nossa cabeça, exceto o tipo de mudança, a surpresa, o espanto e a extraordinária alegria que esta transformação comporta. A profundidade que se esconde nas páginas de um romance tão curto é surpreendente: o lento progresso da velhice, tão doloroso na maioria dos casos, torna-se, aqui um reencontro com a vitalidade. O livro nos leva a valorizar os inúmeros recursos que a fantasia nos oferece. Chegar, através de enredos e aventuras envolventes, a temas simbólicos, tendo sempre, como pano de fundo, paisagens reinventadas e quase fantásticas, neste caso, uma Veneza secreta e quase desconhecida, é uma das características principais da narrativa de Silvana Gandolfi.