Eu tenho a felicidade, neste livro, de ser fielmente traduzido para uma extensa e delicada linguagem. Aqui foram pesadas as equivalências, os minerais do substantivo, o arroz dos adjetivos, os grãos da interjeição. Foram seguidas as veias da minha poesia, limpando o quartzo castelhano para que este enfrentasse a luz torrencial. Tudo isso foi feito com bondade e paixão pelo meu grande amigo e bom companheiro, o poeta Thiago de Mello. Eu próprio o vi emboscado em minhas contradições, desfraldando o fogo e a água com o seu valente coração. Eu o vi trabalhar com uma paciência que não lhe conhecia, e meter as mãos na farinha para que, de tanta pedra, saíra, como dizem os camponeses, o pão como uma flor.Pablo Neruda, no prefácio da primeira antologia de seus poemas que apareceu no Brasil (Rio de Janeiro, Letras e Artes, 1963).