Durante muito tempo a crítica encarou com um certo menosprezo o teatro brasileiro. Elegendo como padrão, em geral, peças do repertório francês, os críticos acabavam sempre por propor comparações descabidas entre autores nacionais e estrangeiros. Com uma agravante: na visão deles, tudo que fosse brasileiro era ruim e imitativo. Quando muito, reconheciam o esforço dos românticos para compreender e revelar o país, um certo sentimento brasileiro em Martins Pena e uma ou outra concessão generosa.Essa mentalidade só seria abalada no século passado, com o aparecimento de autores de presença mais impactante, como Nelson Rodrigues, mas sobretudo por uma tentativa honesta de reavaliação do teatro brasileiro, a partir de suas origens. Neste ponto, o Panorama do Teatro Brasileiro, de Sábato Magaldi, se firmou desde a sua publicação como um clássico da historiografia teatral. Clássico um tanto à maneira de Casa-grande & Senzala, no sentido de trazer à cena fatos até então desprezados ou mal compreendidos, como as relações entre realidade social e teatro, as motivações artísticas, a valorização do papel dos atores. Afinal, o teatro brasileiro nasceu como forma de catequese, utilizando atores improvisados.Sem preconceitos, falso otimismo ou submissão às opiniões do passado, Sábato Magaldi analisa o teatro brasileiro época a época, autor a autor, procedendo a reavaliações, aprofundando a compreensão de autores como José de Alencar e França Júnior, detectando vínculos entre as peças e a realidade social, sem jamais perder de vista o primado do estético.Esta edição está atualizada, tanto quanto o permite a dinâmica da vida. Ao texto primitivo, de 1962, foram acrescidos dois apêndices, tratando da dramaturgia atual e das tendências observadas nas últimas décadas.