Minha perspectiva sempre foi a de pensar Bernardina e Domingos muito mais do que como indivíduos que teriam suas vidas descritas. A intenção, desde sempre, foi entender em que sociedade viveram, quais as possibilidades que lhes foram apresentadas e como se comportaram ao escolher. Talvez, àqueles que gostariam de ler uma narrativa pura e simples da vida do casal farroupilha, este livro pareça falar muito pouco deles. Mas não consigo conceber entendê-los sem conhecer os que estavam com eles e muito menos como as alianças e rivalidades se formavam entre as pessoas. Por isso, o primeiro capítulo deste livro é dedicado não apenas à fundação do povoado que originaria Pelotas, como também à família de Bernardina, os poderosos Rodrigues Barcellos. É a partir daquilo que o casal constrói nos primeiros onze anos de matrimônio que será erigida toda a atuação de Domingos José de Almeida como líder farroupilha e Ministro da República. No segundo capítulo, pensei em não apenas tratar da atuação do casal em meio à guerra e à República, mas também tentar entender como isto estava relacionado à forma como a política e os negócios eram praticados durante aquele momento histórico. Para tanto, foi fundamental pensar na relação com as terras e pessoas além das fronteiras da República e do Império. No último capítulo, minha grande preocupação foi construir um mapa de como os anos seguintes ao conflito permitiram que a família prosperasse, recuperasse seu prestígio e o transmitisse aos descendentes do casal. E mais do que isso, quis entender como todo esse patrimônio imaterial foi perpetuado, garantindo, de certa forma, que a memória de Domingos José de Almeida chegasse a nós, mesmo tendo passado quase século e meio de sua morte. O presente livro é fruto da minha dissertação de mestrado em História defendida na Universidade do Rio Grande do Sul.