As grandes atrocidades e tragédias que pontuam a história tornaram-se efemérides no intuito de evitar sua reincidência. Se, de um lado, isso nos mantém atentos ao passado, de outro em nada nos ajuda, segundo Miroslav Volf, a curar as feridas remanescentes. Tão somente, perpetuam-se ao longo da história, realimentando sentimentos de ódio e vingança, geração após geração. Miroslav adota uma postura radical diante das lembranças amargas. Sob certas condições, defende, devemos esquecer o que se passou ou então saber lembrar, de modo a não se deixar levar pelo destrutivo poder da vingança, pois paradoxalmente a ausência de perdão leva à autocondenação permanente. Engana-se quem pensa que está diante de um incorrigível e ingênuo intelectual. Miroslav tem consciência da dificuldade de agir como apregoa, não apenas quando se trata de dramas coletivos, mas principalmente de amargas violências individuais. Amparado em sua própria experiência de perseguição, o autor garimpou no conhecimento teológico os elementos para fundamentar a possibilidade de redimir a história, em vez de se deixar levar pelo rastro de animosidade e dor que marcam a experiência dos povos.