Apesar da pobreza existir no Brasil há praticamente 500 anos, pensa-la é uma atividade recente no país. Desde o século XIX foram desenvolvidos diversos trabalhos que, de uma forma ou de outra, tangenciavam o este tema. Durante os anos 60 e 70, desenvolveram-se estudos importantes sobre raça e classes sociais, mas foi somente durante os anos 80 e principalmente nos anos 90 que a pobreza começou a ocupar lugar central no debate político e acadêmico, e ser tratada como um problema. Em A pobreza no paraíso tropical, Marcia Sprandel desenvolve um importante trabalho de análise dos discursos sobre a pobreza no Brasil ao longo de cem anos, construindo um panorama rico da produção intelectual sobre o tema. A autora aponta a freqüente naturalização da pobreza nos primeiros trabalhos, onde era descrita detalhadamente mas sempre como uma conseqüência do clima, da doença, da desorganização social ou da incapacidade da população de se organizar para uma revolução. Atualmente, Marcia detecta o discurso tecnocrata da focalização - que determina que sejam gastos recursos em localidades que tiverem um nível de pobreza abaixo de um patamar pré-definido. Ao cobrir diversas obras, desde os clássicos do pensamento brasileiro aos discursos de organismos internacionais como o BIRD e o FMI, Marcia Sprandel realiza uma crônica de idéias, classificada por Mariza Peirano como "um livro essencial para nos auxiliar nesta questão candente".