Só porque/erro/encontro/o que não se/procura. Essa estrofe de um poema de Orides Fontela poderia ser a epígrafe (ou o epitáfio) do livro de estreia de Erick Felinto na poesia. Como todo jogo como todo lance de dados, a poesia não apenas pressupõe o acaso do resultado, mas o destino de quem (se) joga. Na primeira parte deste livro, Felinto nos convida ao jogo do tarô. Ele dá as cartas, ou as cartas se dão. E, em cada uma delas, vemos surgirem as figuras dos arcanos da existência, que o leitor poderá atribuir ao autor (ator?) ou a si mesmo, conforme o acaso. Evidentemente, o leitor entendido jogará as cartas ao seu modo. Outros verão face a face a figura já conhecida, o rei que não se contenta com seu reino, o enforcado que dialoga com seu Outro. Afinal para lembrar outra referência famosa ao tarô as notas às notas de The Waste Land não redimem a poesia de T.S. Eliot do mistério e do encantamento, aquele de quem lê um fragmento em alemão (oed und leer das Meer) e o repete a vida (...)