Uma investigação sobre o segredo que moldou a vida de um homem, um romance especulativo, uma biografia fotográfica e, ao mesmo tempo, um relato autobiográfico que suscita, sem necessariamente responder, importantes questões: é possível conhecer alguém? É possível escrever uma vida? É possível narrar o outro sem narrar a si mesmo?<\/b>

“Quando eu tinha vinte anos, minha mãe avisou que meu tio-avô viria morar com a gente. Ele era, como se dizia na época, ‘esquisitão’: um tipo calado, um solteirão convicto, alguém que morou a vida inteira de favor no quartinho de fundos da irmã mais nova. Além disso, ele tinha uma paralisia nas pernas, possivelmente causada pela sífilis, e empurrava com os pés um balde de urina. Isso fazia com que ele se fechasse no seu próprio mundo.

Ao mesmo tempo, várias histórias circulavam à boca miúda sobre o seu passado: como ele foi um homem bonito, boêmio, um pé de valsa, como teve um ‘convívio respeitoso’ com os malandros da Lapa.