Carlos Skliar se recusa a imobilizar o vital. Talvez esse tenha sido o seu desafio mais permanente como escritor, como professor, como pesquisador. E disso ? do vital na linguagem e do vital na educação ? é que é feito este livro. Talvez por isso recorra aqui à forma do fragmento e da montagem, a isso que no cinema se chama edição. Editar significa cortar as sequências no momento certo e montá-las entre si em uma sucessão rítmica e significativa. Na montagem, uma imagem em movimento é seguida por outra imagem em movimento. Mas é no corte, no que não se vê, nesse tipo de ponto invisível produzido pela superposição de duas imagens visíveis, que se produz o essencial. Neste livro há um fragmento seguido de outro fragmento. Mas é no intervalo, na diferença, nesse silêncio que ocorre entre o final de um movimento (de um fluxo verbal, de uma respiração) e o início de outro, que se produz o que mais importa: a possibilidade de que o leitor se detenha um momento e crie em si mesmo uma espécie de bolha que poderia muito bem ser caracterizada como pensativa. E é esta, exatamente, sua generosidade. Em um texto cuidadosamente editado e montado, denso em ecos e ressonâncias, Carlos Skliar nos fala não tanto da linguagem, mas da experiência da linguagem, com a linguagem e na linguagem. Uma experiência ao mesmo tempo lúcida e apaixonada em que a leitura, a escrita e a conversação são medidas com um mundo feito de interrupções, de iluminações, de alteridades e de mistérios. E nos fala também não tanto da educação, mas da experiência da educação, quando essa experiência está atravessada (e se deixa atravessar) por uma língua viva.