Sirvo-me da memória com todas as suas sobreposições e movimentações. Sei que a memória não representa a verdade porque a verdade é indescritível. Sou uma testemunha que lê o que se entende como o real com a subjetividade da minha mente e da minha consciência. Procuro viver os valores que me são mais caros e que radicam no cristianismo: liberdade, igualdade, fraternidade. Assim escreve Ana Vicente, preparando-nos para a viagem para a qual nos convida neste livro. Uma trajetória íntima, mas «constituída por milhares de microcosmos que se intersetam com cosmos cada vez mais alargados até que ultrapassam o cosmos visível e entram no plano espiritual, e na interrogação acerca do que poderá acontecer no tempo e no espaço após a morte». Nascida numa família anglo-portuguesa de vasta tradição cultural, herdou, como escreve a sua amiga Maria Vitória Barreiros Vaz Pato, «um grande pragmatismo e disciplina na assunção dos compromissos». Ao longo da sua vida tem dado bom uso a estas qualidades: na fidelidade a causas (como o feminismo, que lhe é tão caro), no exercício de um cristianismo ativo e militante, que procura uma maior aproximação às raízes, na curiosidade insaciável que a leva a investigar e a escrever sobre os assuntos mais diversos ou na resiliência que manifesta nos momentos mais difíceis da vida.