O diálogo entre psicanálise e religião nunca foi fácil. As posições prévias, o medo, os preconceitos e, muitas vezes, mecanismos inconscientes impossibilitaram enfrentar o tema com disposição suficiente para escutar o que, da outra parte, se dizia. “Os psicanalistas têm sido particularmente cegos diante do tema da religião”, afirmava com razão W. R. Bion. Os crentes, por sua vez, se sentiram ameaçados pela psicanálise como por poucas disciplinas científicas. Hoje, apesar da evidente evolução em ambos os campos, permanecem boa parte da cegueira e o receio. O diálogo entre a psicanálise e a religião teria sido outro se desde os primeiros momentos não houvesse acontecido um encontro vivo, inflamado e apaixonante entre o “judeu infiel” que foi o fundador da psicanálise e esse outro homem entusiasta, de fé religiosa profunda e de convicção psicanalítica apurada, que foi o pastor Oskar Pfister. Retomar esse primeiro momento do diálogo, observar seus efeitos, seus impasses e seus avanços são os objetivos primordiais desta obra. Nesse panorama, presta-se aqui atenção especial ao campo da teologia católica, que nem sempre se mostrou sensível à questão psicanalítica. Finalmente, apresentam-se os parâmetros básicos nos quais esse difícil diálogo teria de estabelecer-se. Por sua própria essência, parece forçoso que psicanálise e religião estão condenadas a manter a questão permanentemente, porque esta se apresenta de modo radicalmente novo cada vez que alguém fala, enuncia seu Credo. A psicanálise nunca pretenderá contar de antemão com a interpretação desse dizer, e o crente nunca poderá eludir a pergunta sobre o que se oculta sob esse dizer. O diálogo psicanálise-fé se apresenta, assim, não por acidente, mas por essência, como um diálogo interminável. Comentário do Pe. Paiva (Raul Pache de Paiva, SJ) diretor de redação da revista Mensageiro do Coração de Jesus, uma publicação de Edições Loyola O Autor é psicanalista, diplomado pela Associação Médico –n Psicológica AMMAR (Paris / FR) e pelo Centro de Psicoterapia Analítica Pena Retama (Madrid / ESP), além de outros títulos e diplomas. Mantém atividade psicoterapeuta, ao lado de suas atividades acadêmicas em Granada, Espanha. Psicanálise e religião tratam do ser humano. Forçosamente, mesmo com obstáculos de parte a parte, elas se encontram. Dialogar é preciso. O “diálogo inteminável” progride. Morano provoca o encontro das idéias de Freud com as de Oskar Pfister, discípulo e admirador do pai da psicanálise, pastor evangélico suíço, também amigo e correspondente de Jung. Apesar de problemas de ordem sentimental (uma paixão por uma menina – moça) que quase o levou ao divórcio e ao abandono de seu ministério, este pioneiro da psicanálise representa a religião neste diálogo interminável. Excelente bibliografia.