Podia ser isto: um "travelling" ininterrupto de fachadas iguais, janelas em quadrícula miúda e cimento vivo onde a tinta cedeu ao tempo, o colorido sujo, disperso, da roupa estendida, os grafites em risco descontínuo, o ceú em recorte oblíquo, a incongruência áspera do sol. (...) Talvez sejamos todos suburbanos. Mas uns, como no ditado orwelliano, são mais que os outros. É desses que trata este livro. É o ponto de vista deles - esse ponto de vista que por sistema o olhar sobre a periferia ilide e rasura, porque impróprio no poema - que se procura. Porque eles vivem.