Entre os complicados liames que tecem a burocracia do mundo absurdo, certamente a teia que corresponde à administração da justiça se destaca pela lógica implacável de seus inescapáveis paradoxos. É nesses fios que o indivíduo pode ser preso e enredado, sucumbindo às armadilhas da normalidade. Por isso o mundo de Camus é aquele em que os encadeamentos mais simples do cotidiano podem esconder, sob a aparente inocência dos fatos, a terrível incompreensibilidade das coisas. E talvez a situação em que a banalização e o mistério se entrecruzam de forma mais nítida seja a farsa do ritual jurídico.Por isso se justifica plenamente a escolha de Caio Granduque de abordar, neste livro, a forma peculiar como Albert Camus considera, do começo ao fim de sua obra, a presença do direito como suporte das convenções sociais, algo que contrasta profundamente com a ausência de uma justiça real. (...