Em Perciliana e o pássaro com alma de cão reúnem-se realismo e invenção manejados por Luíz Horácio com astuta simplicidade na fala, capaz de captar a criança no bosque da imaginação. Ou deixando que a fala, com sotaque de povo, nos toque, até a mansidão de quem sabe fabular e o invento que não perde nunca o senso humano. Por isso é mágico. Trabalha magistralmente as personagens, percebendo que o estilo é que dá alma às criaturas, não as criaturas que dão alma ao estilo. E o estilo então é o sonho do homem. Seus diálogos se mostram lúcidos, naturais, fluentes. E o texto tem sua verossimilhança no equilíbrio interno, a harmonia pulsante entre a palavra e os seres. Sendo um equilíbrio que se move no amor, ou no espanto de a realidade reconhecer-se. Com ou sem espelho. Um novo escritor, aqui, impõe seu nome e sua marca. E logo se destaca em nossa literatura com elegância, pureza e a arte de afinar o som das coisas. Fazendo-nos, atentos, concentrados, graves, escutar sua melodia de infância: Perciliana? Falou comigo ainda ontem, estava com aquele indiozinho que carrega uma alegria borrada no rosto. Dona Perciliana disse que o senhor estaria necessitando dos meus préstimos. E qual é o seu ofício?- Afinador de piano. Carlos Nejar, poeta e ficcionista. Da Academia Brasileira de Letras.