Na violenta Buenos Aires de um futuro não muito distante, Ana María Shua conta a história de personagens que têm sua vida modificada por uma doença grave em A morte como efeito colateral Ernesto, um maquiador de meia-idade transformado em roteirista por um cineasta excêntrico e abonado, tem sua vida modificada após o diagnóstico de câncer intestinal de seu pai. A doença faz com que os papéis no quadro familiar se modifiquem: o pai, que antes era uma figura dominadora, agora é impelido a pedir auxílio e tem sua independência abalada; a mãe, outrora bela e motivo de orgulho para o filho, surta ao ver a força do companheiro se exaurir; Cora, a irmã parasita, sente-se ameaçada diante da nova situação que todos são obrigados a encarar. Relatando os acontecimentos a um amor do passado, ao qual se submetia sob a condição de amante e que agora não passa de um confessor imaginário, Ernesto revela sua própria forma de loucura. Aliada à temática delicada e triste da doença terminal, o cenário em que os personagens estão inseridos é a violenta Buenos Aires de um futuro próximo, em que as pessoas têm de se locomover em carros blindados e nem suas casas são locais absolutamente seguros. Revertendo tais características a seu favor, Ana María Shua resolveu explorá-las com implacável humor negro. Balanceando diálogos que despencam como concreto e reflexões de um personagem principal que ri de sua própria miséria, a autora dá leveza, poesia e nova dimensão a um tema já demasiadamente explorado, mostrando ao leitor que, ainda que a matéria-prima ali presente esteja gasta, as formas que se lhe pode dar são infinitas e, principalmente, dignas de interesse.