Bom livro é o que abre portas, revela pistas e desenha novas explicações. Quando reúne trabalho sério de pesquisa, transforma-se imediatamente em instrumento para a produção de conhecimento e reflexão. Por fios invisíveis, liga-se a outros centros, fontes e estilos. E consegue circunscrever o seu lugar em meio a um conjunto analítico e interpretativo, com o qual passa a se relacionar através do debate, da crítica alternativa ou da complementação. A presente edição é parte integrante dessa linhagem. Seu esforço foi reunir um conjunto de pesquisadores preocupados em explicitar a avalanche de novos temas e problemas que a indústria automotiva brasileira construiu ao longo da década de 1990, após profundas transformações na sua estrutura produtiva. Este livro adquire realce ao tratar de temas e processos ainda em pleno andamento, com impactos ainda incipientes e resultados apenas sinalizados. Nesse sentido, merece especial deferência pela tentativa corajosa de domesticar os novos personagens dessa indústria que, em pouco mais de 40 anos, teve o terceiro capítulo de sua renovação movido a investimento externo e a generosos recursos públicos brasileiros. Ao ampliar o escopo da pesquisa acadêmica voltada predominantemente para as relações de trabalho, a atuação sindical e os laços entre empresas e fornecedores Indústria automotiva: a nova geografia do setor produtivo se pauta pelo reconhecimento das inovações recentes que sacudiram a economia mundial e essa indústria em particular. Dessa forma, as perguntas dispostas para o debate sugerem um universo mais complexo e fertilizado pela desconcentração industrial, pelos horizontes do desenvolvimento regional, pelas relações do público com o privado, pelas políticas de atração de investimentos, pelos novos processos produtivos, tecnológicos e de gestão, pelas metamorfoses do trabalho e a dança da subjetividade na fábrica, pelas estratégias corporativas e políticas governamentais. Nessas condições, o cuidado nas previsões e a reserva das conclusões denotam maturidade – e não fraqueza –, pois o objetivo é basilar, seja para a reflexão sobre o presente, seja para as comparações do futuro. O registro das decisões, trajetórias e evoluções que acompanharam a instalação das novas fábricas e pólos produtores de autoveículos em Minas Gerais, no Paraná, no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e no ABC paulista torna-se, assim, imprescindível para assentar os fundamentos de um novo corpo conceitual no estudo dessa indústria que teima em se manter moderna, ainda que recorrentemente seja observada através de velhos prismas.