O pensamento iluminista teve grandes consequências: ele modificou a episteme da cultura ocidental em suas disposições fundamentais. Essas alterações no campo da representação fizeram emergir novas sociedades, baseadas em novos projetos. Materializadas e disseminadas pela Enciclopédia, essas ideias promoveram uma revolução cultural. Não se trata, absolutamente, de uma utopia fantasista, mas de uma utopia militante, como tão bem explicita o título da Enciclopédia Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et de métiers, par une société de gens de lettres tratava-se de um projeto raciocinado de sociedade, portanto realizável dentro das perspectivas e dos horizontes de cada sociedade. Os enciclopedistas não venderam fórmulas prontas! Toda mudança deveria ser discutida, feita com o consenso e o aval da sociedade. No portal do século XXI, encontramos um mundo globalizado em que convivemos com a sombra do terrorismo, do fanatismo religioso, com os mais variados e sangrentos conflitos armados, em que nos defrontamos com desigualdades, em todos os níveis, sem contar com a epidemia de miséria se alastrando por todos os continentes e a ameaça do aquecimento global comprometendo todas as formas de vida do planeta, fatores esses que ameaçam a liberdade individual, a paz social e a democracia. Diante da inércia dos governos, a retomada do pensamento iluminista confere novo brilho a esses debates, que permanecem os nossos. As lutas entre fé e razão, fanatismo e tolerância, sectarismos e sentido universal tendem a se aprofundar no contexto global.