Se é verdade que "quando se trata do pensamento (...) é tanto maior a obra feita - que não coincide de modo algum com a extensão e o número dos escritos - quanto mais rico for, nessa obra, o impensado, isto é, o que através dessa obra e somente através dela vem até nós como nunca antes pensado", a obra de Henri Bergson (18/10/1859 - 03/01/1941) deve ser procurada entre as maiores. De facto, sob os diversos esquecimentos, incompreensões e silêncios de que foi alvo a sua filosofia (tanto mais estridentes quanto viva foi a presença de Bergson na vida intelectual do seu tempo), nunca esta deixou de ser palavra viva. Prova-o, por exemplo, o início da publicação dos Études bergsoniennes sete anos após a sua morte (primeiro na editora Albin Michel, depois na P.U.F.), a realização do Colóquio Internacional "Bergson et nous" em 1959 (comemorando o centenário do seu nascimento), o texto de Deleuze de 1966 (confirmando uma dívida insolúvel), o reconhecimento da sua influência por parte das ciências cognitivas, o interesse da neuro-filosofia, a leitura da fenomenologia contemporânea que o reclama como mestre, ou a meditação hermenêutica de P. Ricoeur que, reconhecendo a impossibilidade de pensar o tempo e a sua estrutura narrativa no esquecimento da textura fundadora da memória, regressa a Bergson para poder pensar a memória, a história e o esquecimento.