Havíamos deixado salas de aula, bancos de escola e mesas de trabalho e, em breves semanas de treinamento, estávamos fundidos em um grande e entusiasmado corpo. Crescidos em uma época de segurança, todos sentíamos a nostalgia do incomum, do grande perigo. Foi assim, com entusiasmo juvenil, que Ernst Jünger (1895-1998) partiu da Alemanha para o front francês da Primeira Guerra Mundial. A experiência nas trincheiras desse premiado autor alemão é o tema do Tempestades de aço, um dos mais conhecidos relatos sobre o conflito, traduzido por Marcelo Backes, também responsável pelas notas e o posfácio. Ao contrário de boa parte dos livros de temática bélica, o relato de Jünger não carrega traço algum de pacifismo ou vitimização. A guerra, em sua visão, é o terreno da bravura e da masculinidade, um rito inerente ao ser humano e que beira o espetáculo. Nos momentos mais renhidos da luta, Jünger se diz tomado por duas sensações violentas: a excitação selvagem do caçador e o medo terrível (...)