As Reorientações da alma em Platão rompe com algumas compreensões equivocadas a respeito da filosofia platônica quando o assunto é a querela entre filosofia e poesia, ao tentar responder a pergunta que o próprio Sócrates faz no Teeteto: “Quem se atreveria a lutar contra um exército tão forte e um general como Homero?” (153a). A principal tarefa é tentar compreender minuciosamente a relação entre poesia e filosofia nos livros II, III e X da República, evocando também algumas relações com outros diálogos. Como Diogo Norberto Mesti indica, os limites que a filosofia impõe à poesia são, definitivamente, filosóficos e inegavelmente críticos, mas são também poéticos ou rapsódicos e até mesmo eróticos (como quando se pretende evitar aquela paixão inebriante [Homero] diante da qual não se tem muito controle [Sócrates]). Por isso a imagem da capa em que Sócrates pensa virando as costas para Apolo e ao mesmo tempo sendo inspirado por ele. Platão em algumas circunstâncias está pretendendo reescrever e corrigir os erros homéricos, tentando ser mais poeta do que o grande poeta, mais hermeneuta do que os rapsodos, os sofistas e os tragediógrafos. O resultado é um texto que costura muito bem os laços estreitos entre filosofia e poesia, indicando como a filosofia aceitou a educação auditiva e musical e desenvolveu com a questão da visibilidade suas próprias metáforas, imagens e interpretações a respeito do conhecimento e do saber. A resposta à pergunta do Teeteto é esclarecida pela apresentação do ágon que Platão ousou travar contra o poeta, utilizando-se de algumas armas poéticas. Resta admitir que sem Homero não se pode compreender Platão.