Os três mosqueteiros eram quatro: Athos, Porthos, Aramis e D'Artagnan. A famosa trindade parnasiana – Olavo Bilac, Raimundo Correia, Alberto de Oliveira – também podia ser um quarteto. Por mérito e justiça, Vicente de Carvalho merecia ser o um quarteto mosqueteiro parnasiano. É bem verdade que ele não pode ser considerado um legítimo parnasiano. É mais um clássico, com notas escandalosamente românticas, e alguma surdina simbolista. Parnasiano apenas pelo rigor da forma, se bem que o seu verso seja mais fluido e musical. Mas se fosse um puro parnasiano... A resposta a essas reticências encontra-se num artigo provocador de Mário de Andrade, no qual, pedindo paciência à idolatria dos brasileiros, afirmava que Alberto de Oliveira e Olavo Bilac estavam "um degrau, um degrauzinho abaixo do Sr. Vicente de Carvalho". Se conhecesse este escrito, o poeta por certo o desaprovaria. Pelo menos de público. Desde a sua estreia, com as Ardentias, em 1885 (tinha então 19 anos), ele sempre se mostrou discreto quanto à glória. Após o segundo livro, Relicário (1888), converteu-se ao positivismo, abandonando a atividade poética. A volta foi em grande estilo. Poemas e Canções (1908) teve um imenso sucesso de crítica e de público, apesar do desastroso prefácio de Euclides da Cunha, redimido pelos poemas admiráveis que se lhe seguem: o épico “Fugindo ao Cativeiro”; o pungente “Pequenino Morto”; os sonetos de sabor camoniano intitulados “Velho Tema”; e mais “A Ternura do Mar”, “Cantigas Praianas” e “Sugestões do Crepúsculo”, de temas ligados ao mar, de que o poeta foi o grande cantor em nossa literatura. Fato raro para um livro de poemas, teve dez edições em quinze anos. É que o poeta, como enfatiza Cláudio Murilo Leal no prefácio Melhores Poemas Vicente de Carvalho, tinha "um raro dom de fazer-se amado".