Entxeiwi. Com essa expressão, que se avizinha a "bom-dia", Tikuein - apelido de José Luciano da Silva - ou Nhangoray (Mão Pelada), seu nome indígena, falecido em 2009 e um dos últimos falantes da língua Xetá, iniciava uma conversa com o espelho. Um rito oral com o outro do espelho que podemos dizer um exercício-limite, sintoma do desaparecimento dessa língua - do grupo dialetal guarani, no caso o mbyá, bem como outras da família linguística tupi-guarani - e efeito da dizimação da diversidade cultural a-histórica. Os Xetá, desde o início dos primeiros contatos, em fins do século XIX, ficaram reduzidos a seis indivíduos remanescentes. A soma dos indivíduos é menor que o número de nomes atribuídos à coletividade: Xetá, Héta, Aré, Botocudo, Sjeta, Notobotocudo, Ssetá, Bugre, Yvaparé, Chetá e Seta. São onze nomes coletivos para seis indivíduos que atualmente não convivem coletivamente. Poucos meses após ter decidido que o informe desta fala de Nhangoray seria a pulsão do poema, (...)