Esta é a história de um mundo que não existe mais. Pelo menos parte dele. O Complexo Penitenciário do Carandiru foi demolido em dezembro de 2002, Em seu lugar foi construído o Parque da Juventude, destinado ao lazer e esportes. Daquele presídio restam as lembranças, como as do médico Drauzio Varella, que lá trabalhou voluntariamente e publicou a premiada obra "Estação Carandiru". Ou de quem viveu na condição de preso, como foi o caso de Horácio Indarte. Depois de cumprir pena durante dois anos e dez meses, esse gaúcho de 42 anos hoje está livre para contar os fatos que marcaram a sua passagem por três prisões paulistas: em um distrito policial, no Carandiru e na Penitenciária do Pirajuí. Seu livro começou a ser elaborado durante o período em que esteve detido e nele desfilam os mais diversos personagens. Como Zé Contente, que dá título à obra. O autor fez questão de manter a gíria dos apenados e por isso, ao final, encontra-se um glossário das palavras ou expressões utilizadas no dia-a-dia da carceragem. Horácio escreveu esse livro em parte para exorcizar seus demônios, é verdade. O relato sobre a morte de 13 presidiários queimados durante uma rebelião, por exemplo, é chocante. Mas nada deixou de ser contado da forma como aconteceu. Para mostrar que não há bem mais precioso na vida do que a liberdade. Essa, pelo menos, parece ser a principal lição da leitura de Zé Contente - a luta pela vida no Carandiru e em outras prisões.