Esta obra deve interessar, certamente, não só aos especialista e estudiosos da área mas, ainda, a um grande número de leitores, tendo em vista, sobretudo, a carência de livros sobre a história das religiões e as expressões doutrinais, espirituais, litúrgicas e eclesiásticas do Cristianismo.A questão das causas da reforma é complexa. Para tentar resolvê-la, é preciso ir direto ao essencial. O protestantismo dá ênfase a três doutrinas principais: a justificação pela fé, o sacerdócio universal, a infalibilidade apenas da Bíblia. Esta teologia respondia certamente às necessidades religiosas do tempo, sem o que ela não teria conhecido o sucesso que foi seu.A tese segundo a qual os Reformadores teriam deixado a Igreja romana porque ela estava repleta de devassidões e impurezas é insuficiente. No tempo de Gregório VII e de São Bernardo, existiam tantos abusos na Igreja como na época da Reforma. Não resultou daí contudo nenhuma ruptura comparável a do Protestantismo. Outro fato que deve nos esclarecer: Erasmo, tão duro no \'Elogio da Loucura\' (1511) para com os padres, monges, bispos e papas do seu tempo, não aderiu entretanto à Reforma. Inversamente, quando, no século XVII, a Igreja católica tinha corrigido a maior parte das fraquezas disciplinares que podia-se legitimamente lhe censurar no século precedente, as diferentes confissões reformadas não procuraram regressar à obediência de Roma. As causas da Reforma foram então mais profundas \'que o desregramento de cônegos epicurismtas ou os excessos de temperamento das freirinhas de Poissy\'.