O livro de Fernanda Arlette não é um romance, mas arrasta e compromete o leitor da primeira à última página, como obra de mestre romancista cuja a narrativa, em diferentes planos temporais perfeitamente entremeados, vai aos poucos revelando a trama, ou as muitas tramas da história vivida pela autora, em linguagem sóbria na qual não falta, porém, a metáfora exata na medida certa. Aletheia, se o fosse, seria um belíssimo romance. Não se trata, tão pouco, de um ensaio de filosofia, de psicologia nem de antropologia, mas ajuda a compreender a busca desesperada, muitas vezes caótica e frustada, de amparo, de consolo, de solução no sobrenatural, no mágico, no misterioso que hoje, na persistente falta de solidariedade social e de sentido da vida compartilhado, produz uma multiplicação de oferta, um escorregadio mercado onde a autenticidade e a sinceridade se confundem com a ilusão e o charlatanismo. Qualquer um dessas facetas justificaria a leitura do livro de Fernanda Arlette, mas o que a torna indispensável é a beleza e a força do testemunho de resistência à violência, de amor, coragem, compaixão, solidariedade e esperança que ela quis dar e o faz num texto maduro, que não podia deixar de ser escrito e que o leitor não poderá esquecer, aletheia.