Pela orelha. A poesia entrou em mim pelo ouvido via-voz do meu pai repentista ainda na infância em Pernambuco. Ao final da adolescência, o impacto que tive com a poesia concreta me deixou sem falar. Fiquei sem saída. Fui reler João Cabral para sair da encruzilhada-xadrez de estrelas-xequemate de galáxias. Levei quase trinta anos para publicar este livro. Já havia decidido morrer sem publicá-lo, porém a psicanálise e as falas guerreiras de Francisco Kaq, José Carlos Viera, Sérgio Vaz, Bob e SJ mudaram essa vontade mórbida em mim. Publicar um livro de poemas no território de Gregório de Matos Guerra, Augusto dos Anjos, Cruz e Souza, Oswald de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Augusto de Campos, Haroldo de Campos, na língua de Camões, Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Al Berto é muita responsa, mano. Mas eu sou vários. Aqui o leitor encontrará, sem ordem cronológica, uma polifonia de textos ora de um jovem aos 20 e poucos anos, metafísico-verborrágico, ora encontrará textos concisos de um jovem senhor desobediente e transgressor em seu ofício que, aos 46 anos, reflete sua quebrada, sua nação, a língua e a linguagem do povo dessa paisagem. Esta obra é o contrário do Google. A Arte, como a Ciência, é para erigir perguntas, provocar afectos e perceptos. Aqui o tempo é da palavra, mítico, abissal, epifânico. Demorô !