Afinal, pergunta Lucíola, poesia para quê?, senão para celebrar? Senão para cantar, ecantando, tornar a língua matéria viva, repente sequioso, labiríntico de sons? Para quê poesia, senão para ir com guizos em tropéis, no delírio de um Joyce que se imagine à caça do chiado da jiripoca, que se busque derramado no idioma dos canindés? Poesia é riscar o arco do não dito, é raiz do que não se vê. É chuva que chama zumbido, é so bretudo o lugar onde estranha e maravilho samente se enforquilham no mesmo ponto do mapa as cidades de Cadiz e o recôndito povoado de Garapuá, na ilha de Tinharé. Dividido em cinco partes (Nordestinas, Entre galhos, peixes, Enluaradas, Linha d’água e Semáforo), Balões vítreos alcança com sua música vasta e seu palavreado único aquele fruto em que a linguagem viceja, plena de maravilhas. À boca do átrio, em meio a cardumes e águas e dialetos e pedras em genuína ferocidade, a poeta ergue na pronúncia sua convocação de corpo, de dança. [...]