Emmanuel Lévinas (1906-1995) impõe-se, atualmente, como um dos maiores filósofos europeus. Durante muito tempo, seu pensamento - cuja ambição de fazer repercutir, no cerne do logos, a sabedoria dos doutores do Talmude ou, melhor ainda, de reivindicar um corte radical em relação à filosofia ocidental elaborada até então, sem nada abdicar das rigorosas exigências do discurso filosófico - permaneceu pouco divulgado. Hoje em dia, ele corre o risco de ser negligenciado por causa de seu não conformismo, assim como em razão de uma semi-celebridade, tardiamente reconhecida, propícia à caricatura. Emmanuel Lévinas propagou a fenomenologia na França, publicou "leituras talmúdicas" e, sobretudo, produziu uma obra singular que - desde Da existência ao existente (1947) até De Deus que vem à ideia (1982), passando por Totalidade e infinito (1961) e Autrement qu’être (1974) - dá testemunho de uma provação e de uma imposição: provação do infinito, apelo do rosto de Outrem. Este livro pretende apresentar os diferentes aspectos do pensamento de Lévinas respeitando sua coerência, orientar o leitor e, sobretudo, abrir caminho para a intuição que representa o âmago desse pensamento, sem se esquivar de seu aspecto excessivo e, talvez, desafiador. Talvez seja mesmo ao debate sobre a ambiguidade no pensamento do filósofo franco-lituano que devamos nos expor.