Em sua primeira coletânea de poemas de exílio, Ovídio faz-se personagem da própria obra e se autorrepresenta como relegado. Expulso para os confins do Império, afastado da pátria e dos entes queridos, ele encontra na poesia um modo de permanecer em Roma e fixar sua imagem na tradição literária. Ao enviar à Urbe poemas em forma de carta, o poeta suspende momentaneamente o isolamento e, por meio da poesia, transforma a solidão em diálogo. Analogamente, este livro propõe o diálogo como modo de abordar a Antiguidade: diálogo entre áreas, ao relacionar os estudos clássicos com as contribuições da teoria da literatura e do pós-estruturalismo; diálogo entre tempos, ao mostrar que passado e presente se iluminam mutuamente; diálogo entre obras, ao destacar elementos de retomada intertextual na produção ovidiana. Enfim, diálogo com o outro, pois é na tensão imposta pela diferença que reconhecemos a nós mesmos e que nasce o aprendizado.