A ética naturalista de Daniel Dennett. Convencer: fornecer provas ou justificações adequadas ou seduzir? Para o autor de a mente exterior a resposta é uma só: teorias científicas, argumentos filosóficos ou obras de arte são apenas tentativas diferenciadas de tentar produzir uma visão mais satisfatória do homem e seu universo social. Mais satisfatória quer dizer aqui mais sedutora, mais cativante. É com este olhar que o leitor deve percorrer A mente exterior e se confrontar com o projeto dennetiano. Dennett, assim como Land, não quer assumir uma postura quixotesca e se digladiar contra os fantasmas metafísicos da tradição filosófica. Não quer provar que somos necessariamente livres ou determinados, necessariamente racionais ou máquinas puramente desejantes. Dennett, como um bom representante da atitude pragmatista, quer apenas contribuir com um modelo que possa fornecer uma compreensão mais abrangente e criativa do universo humano. Land, assumindo integralmente esta mesma atitude pragmatista, quer apenas percorrer uma descrição alternativa de pessoa e extrair as conseqüências éticas de sua adoção. As criaturas descritas por Dennett são organismos evolutivamente cada vez mais sofisticados e aptos a responder aos estímulos e variações do seu ambiente. Como em um filme de ficção científica, o leitor poderá acompanhar aqui a geração de designs cada vez mais arrogados, aptos a realizar as mais complexas operações atribuídas à mente humana. Deste modo, é descrito o surgimento da atividade reflexiva, da atividade criativa e, finalmente, do poder deliberativo. As conseqüências em alguns casos são imediatas: a controvérsia natureza versos cultura é esvaziada; os paradigmas da racionalidade são definitivamente expandidos; a inefabilidade de um "eu profundo" evapora pelos orifícios da máquina. Resta, contudo, a vida. Vida que o autor retirada como fruto bendito da "árvore da vida" e estabelece como valor e fonte última de um princípio normativo: o do respeito a tudo que vive. Convencidos ou não, trata-se de uma construção engenhosa e realizada com a dosagem de paixão adequada a um bom exercício da sedução.