A dualidade dicotômica fundamental da metafísica e da ética (bem e mal) é o alvo central da reflexão crítica nietzscheana. Afinal, o que são o bem e o mal ou, referencialmente, o bom e o mau? E mais concretamente... qual é o homem bom ou mau, ou, ao menos, o que distinguiria, em termos suficientemente definidos, a ação boa da ação má. São o bem e o mal idênticos na ação do homem poderoso, orgulhoso e dominador e naquela do homem fraco, humilde e submisso? Nietzsche distingue duas moralidades: a dos senhores e a do rebanho, isto é, pressuposta por ele a divisão fundamental dos homens em dominadores e dominados, a idéia de uma ética comum sustentada pela filosofia não-pagã e pré-nietzscheana é inconsistente e ridícula. A minoria dos homens intelectual e emocionalmente superiores não pode agir e ser avaliada pelos mesmos conceitos de bem e mal com os quais agem e são julgados indivíduos ordinários que constituem a maioria esmagadora. Nietzsche deseja, nesta obra de derradeira maturação de seu instrumental crítico, desfechar o golpe de misericórdia na "velha moralidade" judáico-cristã e abrir a trilha para a ética do super-homem. Assim, Além do Bem e do Mal não preconiza a extinção ou isenção dos conceitos morais, mesmo na avaliação das ações humanas dos poderosos e superiores, resultando num amoralismo. Ao contrário, para Nietzsche todo homem é um ser moral. O igualitarismo é, todavia, a seu ver, absurdo e insustentável. Os homens não devem ser tratados igualmente pela simples, natural, taxativa e inescapável razão de serem desiguais. Seria estúpido aquilatar todos os homens, indistintamente, com uma única e mesma balança.