Marabá, quarta-feira, 17 de abril de 1996. Nesta data, o anoitecer trouxe consigo, na carroceria de um caminhão, 19 corpos de trabalhadores rurais assassinados pela Polícia Militar do Pará. Enquanto os corpos dos trabalhadores eram despejados no Instituto Médico Legal (IML) e seguiam-se as autópsias, a escuridão noturna se intensi?cou: as repentinas ausências de energia elétrica no lugar forçaram os médicos a realizar a perícia com lanternas, dividindo o espaço com os policiais militares comandados pelos algozes da Curva do S. Ali, estava em andamento a tentativa da segunda morte, o acobertamento do crime sob o manto do esquecimento (NEPOMUCENO, 2007: 110-113). A escuridão prosseguia implacável. Naquela mesma noite, os sobreviventes que saíram da mata e se deslocaram da Curva do S para a cidade de Eldorado dos Carajás, também sem energia elétrica, foram intimidados por policiais que ?cavam próximos aos leitos e macas do hospital noite adentro (GUEDES, 2002). A escuridão, aqui [...]