A Antígona acaba de publicar O Comércio da Literatura, um estudo sobre a formação do mercado literário moderno. Através do mercado londrino nos séculos XVII e XVIII, Manuel Portela descreve um dos capítulos mais importantes na história da sociedade das mercadorias. O crescimento económico do teatro, do periódico e do romance permitiu um nível de consumo capaz de transformar a escrita numa forma de propriedade e de capital. A regulação comercial e jurídica desta forma de propriedade foi essencial para a conceptualização do autor como proprietário e para a consequente profissionalização de autores e autoras. O Comércio da Literatura trata de forma integrada as práticas comerciais do sector e os discursos que as representam. São analisadas múltiplas figurações das práticas e dos agentes do comércio das letras, que encenam os dilemas gerados pela necessidade de conciliar a escrita e o dinheiro. A criação de um mercado das letras participou na constituição da esfera pública burguesa e na legitimação do primado das relações de troca na ordem política moderna. Estetização e comercialização da literatura parecem constituir as duas faces da mesma moeda.