A histórica condição de fronteira (entendida como zona de contato e fluxos dos mais diversos), tanto do espaço amazônico quanto do espaço platino, impõe a necessidade de se pensar suas intensas e duradouras conexões com as áreas vizinhas, tanto aquelas do território brasileiro (ou luso-americano, no período colonial) quanto as demais áreas do continente. Essas conexões viabilizaram a constituição de rotas econômicas, políticas, culturais e de migrações, inserindo tanto a Amazônia, quanto as áreas da bacia do Prata em dinâmicas mais amplas do que as exclusivamente locais ou regionais. Os estudos sobre fronteira no Brasil ainda são pensados e realizados em termos majoritariamente regionais, pouco se inserindo na produção de uma história global, ou nacional. Salvo exceções, a fronteira na história brasileira foi e ainda é pensada em termos de limite político, pouco se usa a expansão da fronteira como modelo explicativo da conquista. Uma obra publicada sobre o tema das fronteiras, dado o gigantismo das fronteiras nacionais, dada a expansão fronteiriça da área conquistada aos aborígenes pela "civilização" desde a época da América portuguesa até o presente, geralmente está destinada a um recorte geográfico regionalizado. Nesse sentido, organizar uma coletânea na área de História sobre fronteiras, de dimensão continental, cujo conteúdo é percebido de modo transversal a outros estudos históricos como os de escravidão, estudos agrários, história indígena, história política, guerras, contribui para situar a temática da fronteira, ainda discreta no Brasil, para o lugar central que ela ocupa em diferentes realidades históricas internacionais americanas, por exemplo, nos Estados Unidos, no México e na Colômbia, apenas para indicarmos países cujo processo de ocupação territorial e de conquista foi, em algum modo, similar ao brasileiro.