Em 1927 Gaston Bachelard defendeu sua tese de doutoramento, Ensaio sobre o Conhecimento Aproximado. Em 1938 veio à luz sua obra-prima, A Formação do Espírito Científico - ambos já publicados pela Contraponto. Nesse intervalo de onze anos, publicou três outros livros - O Valor Indutivo da Relatividade (1929), O Pluralismo Coerente da Química Moderna (1932) e O Novo Espírito Científico (1934) - e diversos artigos. Eles formam o primeiro conjunto orgânico de trabalhos epistemológicos do sábio francês, que busca destacar as características da ciência na primeira metade do século XX: aproximação, indutividade, coerência. Estudos é a reunião de cinco artigos escritos nessa época, mais precisamente entre 1931 e 1934. Todos antecipam as linhas de pensamento que acompanharão a obra do mestre. Em "Númeno e Microfísica" aparece pela primeira vez o termo fenomenotécnica, que depois se tornará uma categoria fundamental da epistemologia de Bachelard. Na "Crítica Preliminar do Conceito de Fronteira Epistemológica", antecipando a idéia do poder ilimitado da imaginação, ele discute os limites temporários da atividade científica, que se opõem à idéia metafísica de limites intransponíveis: "Sob certos aspectos, falar de fronteiras da química é tão inútil quanto falar de fronteiras da poesia." Em "Idealismo Discursivo" aparecem idéias que depois serão detalhadas em suas obras maiores, especialmente A Formação do Espírito Científico: "É preciso divagar para chegar ao objetivo (...). Não existe verdade primeira. Só existem erros primeiros." O conceito-chave de obstáculo epistemológico, embora não seja nomeado, está presente em "Luz e Substância", onde Bachelard denuncia o realismo de Schopenhauer em matéria de filosofia das ciências físicas. Finalmente, em "O Mundo como Capricho e Miniatura" aparecem as relações entre o sonho e a percepção do espaço, antecipando temas que serão desenvolvidos depois em A Terra e os Devaneios do Repouso e A Poética do Espaço.