Sou psicanalista porque sou psiquiatra. Para os da minha geração, ser psicanalista implica a procura da verdade, busca indispensável para sobreviver aos horrores da guerra, à destruição, à Shoah e ao regime de Vichy. A necessidade sentida pelos sobreviventes de darem um sentido à vida era tão absoluta, que por vezes nos tornámos sectários, ideólogos da caça às ideologias. Ser psicanalista é interrogar-se sobre o estatuto dos conceitos e dos objectos de conhecimento que permitam decifrar os movimentos psíquicos próprios e os do paciente. Instâncias psíquicas, modelos intrapsíquicos, pulsões, objectos de pulsões, fantasmas, todo o psicanalista utiliza estas palavras indispensáveis à compreensão, sem que por isso se deixe iludir por elas e cair no "realismo psicológico", há muito denunciado por Politzer. Uma crítica indispensável legitima o trabalho psicanalítico. Leva igualmente a reavaliar os conceitos da clínica psiquiátrica corrente."RENÉ DIATKINE, psiquiatra e psicanalista, professor de Psiquiatria Infantil na Universidade de Genebra. Fundador do Sistema de Assistência Psiquiátrica do "XIII Arrondissement" de Paris. Colaborador de J. Ajuriaguerra e de S. Lebovici.