Em cinco tempos (Tempos do verbo ser, Cenas de rua, Do homem, Banco de dados da realidade e Pretérito), Helena Armond entrega-nos em versos a denúncia da realidade do homem e do mundo. Utiliza-se de uma linguagem ambígua, num jogo de palavras e formas que nos leva a uma viagem pelo existencialismo num mundo em constante mutação. Fala da alienação humana e da sua degradação em meio ao caos. Tempos do verbo ser questiona a identidade da autora, a existência e a condição do ser humano, seus medos e angústias. Fala de sua própria poesia, de sua forma de não calar, de interrogar e denunciar a realidade do mundo (não vendo / mel / ou melado / nem baratos / manjares / vendo / pimentas / que / abrem / bocas / que / babam). Em Cenas de rua, ela aborda o automatismo, o homem condicionado pela mesmice (o sorriso falso do caixa que diz volte sempre). Seus versos trazem situações do cotidiano que mostram o desrespeito do homem com o próprio homem, a superficialidade de algumas atitudes que fazem dele um ser frio e ignorante (hermética / a grande guela / devora / medidas metrô / e devolve / golfadas / a cada estação). Denuncia a luta pela sobrevivência e as diferenças entre classes sociais. Do homem fala daquele que se cala, de seus medos abafados que acabam se tornando sacrifícios a serem engolidos e esquecidos (o homem / se cala / em sustos e medos mudos / o SER em sede / será / FUTURA / Compacta / Pedra D'Ára). Helena afirma em um dos poemas que se fosse falar de amenidades ou de sutilezas e perfeições, seria uma alienada. Banco de dados da realidade é realmente um testemunho de cenas comuns, mas que passam desapercebidas aos olhos, como a do trabalhador revoltado por ser explorado desde criança (é fera / dobrada ao meio / mas... / poderia / ter sido / jazida de ouro / a ser explorada / e... que foi perdida / se a tempo justiça houvera / quando aos seis...). Também ficam claras as constantes cenas de desordem e violência, onde compara o homem com o macaco, mas deixa explícita a sua condição de bicho incoerente (e o macaco ironiza). O livro é encerrado com Pretérito, onde mostra o processo pelo qual passa o homem deixando suas marcas na história (somos tempos inscritos / (num vaso de barro / corpo de terra) / em vagos tempos / de ser humor / estilos de gozos / provas amargas / ou doces). O homem passa pela vida percorrendo a linha do tempo, enquanto esta fica estática, servindo-lhe de guia (... o tempo não passa... / passamos...).Helena Armond: poeta, escultora, pintora, pesquisadora e presença de grande força na literatura brasileira contemporânea. De família de intelectuais e artistas, desde cedo conviveu com a arte e se interessou por ela. Foi incentivada pelos pais em seus primeiros exercícios de puro ludismo infantil, o que a ajudou nas escolhas de caminhos como artista plástica. Além da pintura, profissionalizou-se na produção de papel artesanal e em escultura. Participa de exposições coletivas de artes plásticas e também realiza exposições individuais. Sua obra (plástica ou poética) revela como domintante o seu caráter interrogativo/experimental sobre a matéria e o ritmo essencial da vida, a existencialidade do homem. Busca o entrelaçamento da linguagem poética e das artes plásticas.Estréia em livro, em 1983, com Linhas, segmentos e pontos... de vista. Pubilcou vários outros livros como Ecléticas crônicas poéticas (1984), Limites, conquistas... e linhas mistas (1985), Velaturas (1987), Corredor de espera (1988), Enigma (1996), Pedra d'ára (prêmio da APCA para Melhor Livro de Poesia em 1998), Água forte (1998), Em busca do elo perdido (1999) e Falo de fogo (2001). *Dados biográficos extraídos do Dicionário Crítico de Escritoras Brasileiras, de Nelly Novaes, verbete 512 (Escrituras Ed.)