Uma mulher vaga pelo deserto. Ela não tem nome, nem origem, tampouco destino. Descobrimos que ela tinha asas a partir da afirmação de que foram cortadas: a única coisa que se agarra a seus pés calejados e garganta inflamada é o peso paradoxal da ausência. A voz dessa mulher inunda os poemas e projeta em nós leitores a figura de um amor que, apesar de há muito perdido, continua latejando como um corte não cicatrizado. E, apesar de sermos alertados já no prólogo que esse livro não é sobre você, é impossível não delimitar neste vazio nariz, olhos e boca. Zoë Naiman Rozenbaum escreve os buracos que o amor deixou pelo caminho. Se trata de uma poesia que, ao encher as páginas e des crever ricamente situações e lugares, acaba por evidenciar o espaço entre dois corpos que outrora foram uníssonos. Ela constata que há um grande abismo entre o que foi e o que poderia ser os cacos estilhaçados entre presente e passado são um mosaico que nunca poderá ser completado.