Estas Histórias cruéis são arrancadas das situações cotidianas mais banais como espécies de “gotas da baba de Caim”, para lembrar Machado de Assis, ou as “causas secretas” que motivam e gratificam os seres danificados de uma caixa de sombras, na qual muitos humanos estão encerrados. São paradoxos da normalidade emergindo de um fundo escuso e turvo tornados linguagem que descerra a cortina das etiologias normais ou patológicas em cena. São pequenas histórias colhidas no panorama cultural que está na praça, talvez algo diluído e nelas num processo concentracionário que pode espantar e assustar. Contudo, há fontes identificáveis (que o autor explicita boa parte ao final do livro) na música popular, no cinema, na literatura, no mundo cão televisivo e radiológico etc., enfim, naquilo que é mais ou menos familiar a todo mundo, indicando que a correnteza dessas águas ao mesmo tempo explicita e oculta os destroços e ruínas que seguem e estão aí.Talvez esses contos possam ser lidos também sob o prisma sugerido por Edgar Poe do “demônio da perversidade”: ´um pensamento terrível que nos gela até a medula dos ossos, com a feroz volúpia do seu horror, e nossa vertigem e náusea”. E aí a perversidade desatada não é somente as ações das personagens, suas intenções, reflexões, mas especialmente a linguagem com que são narradas.