Mas ela é um livro místico e somente a alguns (a qual tal graça se consente) é dado lê-la. Estes versos de John Donne dizem muito deste livro. A narrativa de Gisela Sparremberger pega você pela mão com delicadeza sensual, sincera e intrigante, e coloca no centro da vertigem do ser mulher, um consistente exercício de mudanças de vértices, e se abre num mergulho de multiplicidades. Poemas, contos, crônicas e outros gêneros a serem ainda catalogados. Ela leva você ao céu e ao inferno da intimidade. Você não tem escolha; Ela está no comando da narrativa. Na sua frente, o leitor mais sensível está prestes a se defrontar com Ela, muitas mulheres na voz de uma só. Às vezes Ela se apresenta tímida, romântica e apaixonada ou furiosa, louca e arrependida; outras vezes, frágil, Ela sangra e chora, ingênua, sonha e se deprime, e, então, cresce caçadora que intimida e assusta você, sempre Ela. Uma coisa é certa, Ela vai te derrubar quando se mostrar ao avesso nos lapsos da alma feminina, mas não se iluda. Ela pode ainda te humilhar, te deleitar, te aconselhar e te acariciar. Com seu texto direto, Ela recusa o puritanismo e pode parecer, a um só tempo, prosaica, familiar e frágil. Mas não acredite, pois tudo é ilusão. Ela é mais, muito mais, e Ela vai pegar você. Mas não resista, porque vale a pena. - Júlio Conte, Psicanalista, dramaturgo e escritor.